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Industrialização na Construção Civil: Avanços e Desafios

A construção civil no Brasil tem avançado em direção à industrialização, mas enfrenta desafios significativos, como a escassez de mão de obra especializada e a tributação elevada em comparação ao sistema convencional. Este panorama é delineado pela recente Sondagem da Construção em Sistemas Industrializados, conduzida pela FGV Ibre e encomendada pelo Modern Construction Show.

Segundo o estudo, apenas 24% das empresas de construção civil utilizam sistemas industrializados em mais de 75% de seus projetos. Ana Maria Castelo, coordenadora da pesquisa, destaca que embora os processos industrializados já estejam presentes no setor, sua disseminação ainda é limitada.

“É um copo meio cheio, meio vazio. Por um lado, temos um percentual significativo de empresas utilizando esses sistemas. Por outro, muitas empresas que não adotam esses métodos justificam a decisão pela falta de perfil adequado para investir em modernização, sem considerar as potencialidades dos sistemas industrializados”, comenta Ana Maria.

A construção industrializada envolve a produção de componentes em ambiente fabril, posteriormente montados no canteiro de obras. Este método permite acelerar a construção e controlar melhor os custos de produção. A sondagem revelou que 64,5% das empresas no Brasil utilizam algum tipo de sistema industrializado, com destaque para o segmento residencial, que responde por 50,8% dessas obras.

Os sistemas mais empregados incluem kits elétricos (82,1%), estruturas pré-fabricadas de concreto (70,5%), drywall (64,4%), estruturas em aço (60,2%) e kits hidráulicos (53,5%). Entre os benefícios apontados pelas empresas que adotam a construção industrializada estão a redução do prazo de conclusão da obra (81,5%), diminuição do uso de mão de obra no canteiro (71,6%) e maior controle de custos (66%).

No entanto, a falta de mão de obra qualificada é um obstáculo significativo para a expansão da industrialização na construção civil. A formação inadequada de projetistas e gestores também agrava essa situação. “O setor sofreu um apagão de mão de obra entre 2007 e 2013. Sempre que há um período de crescimento, enfrentamos a falta de profissionais qualificados, o que impede a ampliação da discussão sobre a industrialização”, explica Ana Maria.

Outro entrave relevante é a questão tributária. Atualmente, há uma discrepância significativa na incidência de impostos entre diferentes sistemas construtivos. Obras tradicionais recolhem ISS (Imposto sobre Serviços) com alíquota reduzida, enquanto projetos industrializados enfrentam a carga adicional do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). A reforma tributária em discussão pode ser uma solução, unificando tributos e eliminando essa distinção, o que poderia estimular a adoção de métodos industrializados.

A sondagem será apresentada em detalhes na próxima quarta-feira (31), na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), trazendo à tona a necessidade de políticas que incentivem a capacitação e a modernização do setor, para que a construção civil brasileira possa aproveitar plenamente os benefícios da industrialização.