A construção civil, um dos setores mais relevantes da economia brasileira, está passando por uma revolução para enfrentar o desafio da falta de mão de obra qualificada. Com aproximadamente 2,9 milhões de trabalhadores formais e idade média de 41 anos, as empresas do setor estão investindo em digitalização, industrialização dos canteiros de obras e aumento salarial para atrair jovens profissionais.
Capacitação e novos modelos de trabalho
Para rejuvenescer sua força de trabalho, algumas construtoras têm criado escolas de formação dentro dos próprios canteiros. Um exemplo é a “fábrica-escola” da Construtora Tenda, lançada em 2023, onde jovens aprendem atividades como acabamento, pintura e instalação de cerâmica. O programa já formou 151 profissionais, garantindo reposição rápida e reduzindo a rotatividade de mão de obra.
Outro destaque é a iniciativa de contratação de refugiados, iniciada durante a pandemia. Trabalhadores vindos de países como Venezuela, Angola e Haiti recebem treinamento e são absorvidos pelo mercado, ampliando a diversidade no setor. Um desses profissionais é Matuvanga Mputu, de 41 anos, que migrou de Angola para o Brasil em 2021 e encontrou na construção civil uma oportunidade de crescimento profissional.
Digitalização dos processos
O setor também tem acelerado a adoção de tecnologias para aumentar a produtividade e reduzir desperdícios. Processos antes burocráticos, como conferências de serviços e recebimento de materiais, estão sendo digitalizados por meio de aplicativos e tablets, garantindo informações em tempo real para engenheiros e gestores.
A industrialização dos canteiros também está se tornando realidade. Empresas como a Tenda já implementaram um modelo de “linha de produção de apartamentos”, onde materiais pré-moldados chegam prontos para instalação, reduzindo o tempo de execução e minimizando perdas. Essa abordagem se inspira no conceito de “just in time”, amplamente utilizado na indústria automobilística.
Salários em alta e novas oportunidades
Diante da escassez de mão de obra qualificada, as empresas têm aumentado os salários para atrair novos profissionais. Hoje, a média salarial do setor é de R$ 3.661, superando a indústria (R$ 3.571). Algumas construtoras oferecem remuneração baseada em produtividade, podendo chegar a R$ 7,5 mil para trabalhadores altamente qualificados.
O crescimento do setor é impulsionado pelo programa Minha Casa, Minha Vida, que gerou mais de 200 mil novas vagas em 2024. No entanto, a alta na remuneração também impacta os custos do setor, refletindo-se no índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que registrou aumento de 6,34% no período de janeiro a dezembro do mesmo ano.
Perspectivas para o futuro
O Sinduscon-SP, em parceria com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, planeja lançar um curso técnico de edificações a partir de 2026, visando a qualificação de novos profissionais. Além disso, a discussão sobre a formalização do setor continua. Atualmente, apenas 26% dos trabalhadores da construção civil possuem carteira assinada, enquanto muitos preferem atuar como autônomos.
A industrialização do setor também deve ganhar impulso com a reforma tributária, que promete reduzir a carga sobre materiais pré-moldados, incentivando a modernização das construções. Segundo Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do Sinduscon-SP, essa medida ajudará o Brasil a se alinhar às tendências internacionais.
Com um mercado aquecido e em plena transformação, a construção civil se posiciona como uma área promissora para os jovens que buscam crescimento profissional e estabilidade.